terça-feira, 27 de maio de 2008
O cavaquinho é um cordofone popular de pequenas dimensões, que sem dúvida, hoje aparece fundamentalmente no Minho como espécie tipicamente popular, ligado às formas essenciais da música característica dessa Província. É um dos instrumentos favoritos e mais populares das rusgas minhotas, e, como estas e como o género musical que lhe é específico, tem carácter exclusivo e acentuadamente lúdico e festivo, com radical exclusão de usos cerimoniais ou austeros. Surge ainda por todo o país, especialmente em Lisboa e no Algarve, como instrumento urbano burguês, tocado de ponteado, geralmente em conjuntos instrumentais, as tunas.
Parecem ter começado muito cedo as suas viagens nas mãos de emigrantes e colonos, tendo deixado marcas duradouras em Cabo-Verde e no Brasil, onde a sua difusão e, como nos diz Jorge Dias, referenciada por vários autores brasileiros, nos conjuntos regionais, no choro, no samba, nos bailes pastoris, na chegança de marujos, no bumba-meu-boi, no cateretê, etc., notando ainda a sua influência na música erudita brasileira. Na ilha da Madeira, o cavaquinho, designado localmente por braguinha, conhece uma utilização generalizada, por um lado como instrumento popular de camponeses ou «vilãos», por outro como instrumento citadino, tocado de ponteado em conjuntos de que fazia parte a alta sociedade funchalense. Será da ilha da Madeira que a braguinha viajará para o Havai. Levado para a ilha do Havai, tornou-se muito popular sob o nome de UKULELE.
Minho – O cavaquinho é essencial no Alto-Minho. È um instrumento muito popular ligado ás formas essenciais da música característica desta província. É um dos instrumentos favoritos e mais populares das rusgas Minhotas. É utilizado sozinho, com função harmónica e para acompanhamento do canto. Deste modo, na região, o cavaquinho alterna com a rebeca chuleira as funções de instrumento agudo.
Lisboa – O cavaquinho de Lisboa, é semelhante ao Minhoto pelo seu aspecto geral, dimensões e tipo de encordoamento. O cavalete difere do dos cavaquinhos Minhotos, tratando-se de uma espessa régua linear com um rasgo horizontal escavado a meio onde a corda prende por um nó corredio. Enfim, em certos casos aliás pouco frequentes, um instrumento parecido com o cavaquinho pelo seu formato geral e dimensões – mas com um número superior de cordas e um braço mais largo – leva também o nome de cavaquinho, embora não partilhe com ele a mesma estirpe e natureza.
Algarve – No Algarve conhece-se igualmente o cavaquinho como instrumento de tuna – “a solo ou com bandolins, violas (violões), guitarras e outros” – de uso similar ao de Lisboa: urbano, popular ou burguês, para estudantinas, serenatas, etc...
Ilha da Madeira – Na ilha da Madeira existe também o correspondente destes cordofones com os nomes de braguinha, braga, machete, machete de braga ou cavaquinho. O braguinha tem as mesmas dimensões e número de cordas dos cavaquinhos continentais, possuindo a forma e as características do cavaquinho de Lisboa. O encordoamento parece ser de tripa, mas o uso popular substitui geralmente a primeira corda por fio de aço cru e a sua afinação é ré-sol-si-ré, do grave para o agudo. Relativamente ao seu contexto social, o braguinha madeirense desempenha uma função dupla. Pode apresentar-se como instrumento de nítido carácter popular, próprio do “vilão”, rítmico e harmónico, para acompanhamento, tocando-se rasgado. Morfologicamente idênticos, o instrumento rural é extremamente rústico e pobre, enquanto que o Burguês e citadino é geralmente de uma feitura esmerada, em madeira de luxo e com embutidos.
Açores – O Dicionário Musical de Ernesto Vieira e o Grove’s Dictionary of music mencionam a presença do cavaquinho nos Açores (Prainha do Norte, ilha do Pico) existindo ainda notícia da sua presença do Faial, nomeadamente na ilha do Flamengos, perto da Horta.
Brasil – O cavaquinho existe também no Brasil, figurando em todos os conjuntos regionais de choros, emboladas, bailes pastoris, sambas, ranchos, chulas, bumbas-meu-boi, cheganças de marujos, cateretês, etc. Este cavaquinho difere do Minhoto tendo – como os de Lisboa e da Madeira – o braço em ressalto sobre o tampo, 17 trastos e boca redonda possuindo menores dimensões totais. Embora de carácter popular, o cavaquinho brasileiro pertence a este ultimo tipo, sendo sobretudo usado pelos estratos populares urbanos.
Ilha Havai – Finalmente, nas ilhas Havai existe um instrumento igual ao cavaquinho – o «ukulele» – que parece ter sido para ali levado pelos portugueses. Tal como o nosso cavaquinho, o «ukulele» havaiano tem quatro cordas e a mesma forma geral. O cavaquinho foi introduzido no Havai pelo madeirense João Fernandes que viaja para Honolulu no barco à vela «Ravenscrag» com um contingente de emigrantes destinado ás plantações de açúcar, seguindo trajecto pela rota do cabo Horn. O «Ravenscrag» chega a Honolulu a 23 de Agosto de1879 e João Fernandes, ao desembarcar, trazia na mão o braguinha com que entretivera os demais na longa viagem. Os havaianos, quando ouviram João Fernandes tocar o pequeno instrumento, ficaram encantados e logo lhe deram o nome de «ukulele» - que significa «pulga saltadora» - figurando o modo peculiar como é tocado.
Cabo Verde – O cavaquinho existe também em Cabo Verde, num formato maior do que o do seu congénere português, com escala em ressalto até à boca e dezasseis trastos, encontrando-se também ligado às formas tradicional da música local.